O baldio
No 4° Simpósio Internacional acerca do Documento Eletrónico (Tolosa, 2001), nós tínhamos apresentado, Thomas Polacsek e eu, o conceito do baldio hipertextual (pdf, em francês), uma nova forma de criar links entre documentos.Tínhamos baseado-nos nos trabalhos do paysagista Gilles Clément (Éloge de la friche, edições Lacourière e Frélaut, 1994) utilizando o baldio como uma metáfora do hipertexto, passando da noção da linha do desejo estimada pelo urbanismo…
Trata-se de circundar um edifício por uma relva sem traçar nenhum caminho para ele. São os utentes que gastam a relva com o tempo, assim determinando os caminhos os mais úteis. Fica então ao arquiteto, após um período de uso mais ou menos longo, instalar na duração os caminhos traçados, pavimentando-os. O utente tornou-se até certo ponto o arquiteto do seu lugar de vida.…À sua aplicação para a navegação hipertextual:
O modelo do baldio consiste para um hipertexto em não ter nem ponto de entrada, nem ponto de saída, e no facto que cada documento que o compõe seja ligado a todos os outros. O utente é «solto» em imersão no coração do baldio, isto é num documento qualquer, e deve criar o seu próprio percurso, o seu próprio caminho cognitivo, no conjunto das informações que se apresentam a ele.Pois, o princípio consistia-se em criar um hipertexto completo, cada unidade de informação apontando para todas as demais, em deixar os visitantes apropriar-se dele e naveguar pelos links, e, em seguida, em congelar os caminhos os mais usados depois desta fase de aprendizagem.
A aventura foi mais ou menos terminada com o poster de apresentação do conceito, algumas implementações em hipertextos pequenos foram feitas em seguida, sem dar lugar a novas publicações.
As linhas do desejo
Eis aqui hoje, o conceito renasce das cinzas debaixo doutros céus, no campo relacionado da busca de informações e da navegabilidade de um site, por meio de um artigo do Jim Kalbach e da Karen Lindemann (Designing Screens Using Cores and Paths).Os autores apresentam lá o trabalho do arquiteto de informação Are Halland quem, na sua apresentação Core and Paths: Designing findability from the inside out (EuroIA Summit, 2007), propõe um método de web design que se pode resumir a começar com o conteúdo, e em seguida, a desenvolver a navegação a partir deste.
Reencontramos o conceito de linhas do desejo, desta vez via o arquiteto Christopher Alexander (A Pattern Language, Oxford University Press, 1977) que preconiza pôr primeiro os objetivos, depois relacioná-los com caminhos (To lay out paths, first place goals at natural points of interest. Then connect the goals to one another to form the paths).
Conteúdo e Caminhos
Mas voltamos ao Are Halland que desenvolve uma técnica de design, a do Conteúdo e dos Caminhos, em três pontos:- Começar com o conteúdo
- Definir caminhos para o conteúdo
- Definir caminhos a partir do conteúdo
Trata-se aqui priorizar o conteúdo e as funcionalidades que estão ligadas a este para satisfazer os objetivos do usuário. Depois, podemos tornar este conteúdo primário acessível (busca facetada, menus, otimização para motores de busca, inbound links, newsletter…). Por último, trata-se desenvolver caminhos a partir deste conteúdo (chamada à ação, compartilhamento social).
O coração é logo o conteúdo que queremos promover, a razão pela qual os usuários vêm: uma informação relevante, uma fotografia, uma vídeo, uma página de produto… Encontra-se rodeado de informações secundárias que vêm enriquecê-lo (fontes, características, anedotas, conteúdos pertos). Temos de encontrar o equilíbrio certo entre o que o utente está à procura (lazer, informação, compra, comparação) e os objetivos do provedor de conteúdo (informação, promoção de um serviço, venda de um produto, imagem de marca). É aliás este conteúdo que deve permanecer na frente seja qual for o dispositivo com o qual o utilizador acede a ele. Computador de mesa, tablete ou smartphone, o web design responsivo deve permiti-lo adaptar-se a cada tipo de apresentação.
Este conteúdo inscreve-se num fluxo de descoberta e de navegação. Precisamos tornar este conteúdo visível por caminhos que entram dentro do próprio site (motor de busca interno, navegação facetada, menus), e ao redor do site (blogs, motores de busca, inbound links, SEO, fonte RSS, rede de afiliados, newsletters, APIs). O conteúdo é agora visível e acessível.
O próximo passo é dar-lhe vida. O conteúdo não deve ser um mero ponto de vista no fim de uma impasse. Ele deve ser plenamente inscrito no fluxo de navegação e de consumo. A partir deste, os usuários devem facilmente serem capaz de responder a uma chamada à ação: consumá-lo no contexto de uma compra, deixar o seu contato (subscrição a uma newsletter, a um fluxo Twitter, a uma página Facebook), agregá-lo valor (comentários, notação), até mesmo num modo crowdsourcing (categorização, tradução, anotação), compartilhá-lo através de redes sociais (até torná-lo viral, quem sabe).
Conclusão
A utilização de metáfora como princípio de ideação permite rapidamente a aparição de idéias novas transpondo conceitos de áreas diferentes. Este é ao mesmo tempo um ponto de partida interessante e uma imagem que ajuda a explicar alguns conceitos de uma maneira simples.Nós temos visto como o conceito de caminho no mundo tangível do urbanismo pode aplicar-se a navegação na Internet: do baldio às linhas de desejo, do hipertexto ao posto na frente de conteúdo com finalidades diferentes segundo os atores envolvidos.
O que reter disso, finalmente?
O conteúdo deve inscrever-se no coração da abordagem de criação de um web design, ele mesmo pensado como um fluxo de descoberta e de navegação. As três principais questões para se colocar são: qual conteúdo apresentar, como torná-lo visível, e quais ações fornecer aos usuários a partir dele.Fotografia por Elysse, via Wikimedia Commons.
Du contenu et des liens (em francês)
De contenido y enlaces (em espanhol)
Of content and links (em inglês)
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