sábado, 3 de novembro de 2012

Uma história dos nomes de domínio


A gestão de nomes de domínio é um exemplo interessante da economia da escassez, uma vez que o recurso em si, o facto de ligar um nome de domínio a um conjunto de números, é virtualmente ilimitado. Por que ainda pagamos o direito de atribuir um nome de domínio a um endereço IP? Isto é o que vamos tentar descobrir através desta série de posts dedicados à história dos nomes de domínio.

Um bocado de técnica

Um endereço IP (para Internet Protocol) é um conjunto de números separados por pontos, por exemplo 127.0.0.1 para o localhost no IPv4. O IPv4, ou a versão 4 do protocolo de Internet, é historicamente a primeira versão a ter sido amplamente implantada. Inclui 232 endereços diferentes, ou seja cerca de 4,2 biliões de endereços. Chegada oficialmente à saturação o 3 de fevereiro de 2011, a IANA (Internet Assigned Numbers Authority, ou Autoridade para Atribuição de Números da Internet) tendo distribuído seus últimos cinco blocos, deveria ser substituída pelo IPv6 que é lento para implementar. O IPv6 poderá suportar 2128 endereços diferentes, ou seja 3,4x1038, ou 340 sextiliões, ou um bilião de biliões vezes o número de estrelas observadas (3x1023). Entretanto, soluções ad hoc permitiram empurrar o prazo.

Como chegámos aqui?

Especialmente por um mau uso dos recursos. Os endereços sendo agrupados em classes, isto é em blocos de 16 milhões (Classe A), 65 536 (Classe B) e 256 endereços (Classe C), os blocos foram atribuídos um pouco além das necessidades reais, algumas organizações assim receberam 16 milhões endereços de um só bloco. Em seguida, fora ajustada a política de alocação de endereços para ficar um pouco mais perto das necessidades reais.
Algumas instituições têm retornado, numa base voluntária, blocos de endereços não utilizados.
Como pode ser visto, nas camadas mais profundas da rede, onde a necessidade é a lei e a tecnologia o único agente político viável, encontram-se soluções. Estamos longe aqui da questão do pico do petróleo (ou do gás, ou do ouro…) e do esgotamento dalguns recursos naturais.

Um pouco de história

O primeiro servidor de nomes de domínio data de 1984, na Universidade de Wisconsin. Um ano depois, aparecem os primeiros domínios de nível superior (TLD ou top-level domains): .com, .net e .org, e os domínios patrocinados, isto é com condições de acesso, .edu, .gov e .mil. O primeiro, criado em janeiro de 1985 chamava-se nordu.net (utilizado para identificar o primeiro servidor raiz nic.nordu.net), e o primeiro .com, em março de 1985, symbolics.com. Esses nomes de domínio eram gratuitos, geridos pela IANA (Internet Assigned Numbers Authority) e pela NSF (National Science Foundation).

Gratuitos, você diz?

Com o aumento do uso da Internet (com já um milhar de domínios em 1985), o procedimento manual (pedido por email, adicionar a linha num ficheiro de texto, o famoso /etc/hosts ou hosts.txt, e em seguida a copia manual nos servidores) irá automatizar-se graças ao sistema de nome de domínio (DNS ou Domain Name System) no qual o arquivo se replica automaticamente de servidor para servidor. Aliás, symbolics.com foi também o primeiro nome de domínio a ser registrado por este processo.

O DDN-NIC (para Defense Data Network-Network Information Center) ainda gere o processo, sob contrato com o Departamento de Defesa dos EUA. No que respeita à gratuidade, a alocação de nomes de domínio de então funciona com orçamentos militares.

Em 1992, a NSF fiz uma chamada para licitação durante a criação de InterNIC (Internet Network Information Center) e uma empresa privada, a Network Solutions, levou tudos os serviços de registro de nomes de domínio en .com, .net e .org, e 5,9 milhões de dólares de subvenção para os gerir. O .mil pertence à Boeing que lhe subcontrata imediatamente a administração dele. Em 1995, os nomes de domínio, até então gratuitos, passam à 50 dólares por ano, de quem 30% são doados para a NSF (estos 30% serão mais tarde cancelados porque não foram aprovados pelo Congresso).

Em março de 1995, 45 000 nomes de domínio foram registrados, 25% mais do que em fevereiro do mesmo ano. E a especulação entra em pleno andamento, os nomes de domínio sendo muitas vezes adquiridos para uma revenda posterior, o que é chamado por conseguinte o domaining.

ICANN

A ICANN (Internet Corporation for Assigned Names and Numbers, ou Corporação da Internet para Atribuição de Nomes e Números) é uma empresa sem fins lucrativos criada em 1998 que tem em particular o papel de gerir o sistema de nome de domínios de topo genéricos (gTLD) e os de código de país (ccTLD), e de assegurar as funções de gestão do sistema de servidores-raiz (visão geral da tipologia dos nomes de domínio). Portanto, assume as prerrogativas da IANA que é doravante um componente dela.

Na prática, a ICANN subcontrata os registros de nomes de domínio (o que se chama o direito de delegar a venda) a terceiros: VeriSign (pelo .com e o .net), Neustar (.us e .biz), FCCN (Fundação para a Computação Científica Nacional, pelo .pt), Registro.br (.br), Nominet UK (.uk), AFNIC (Association Française pour le Nommage Internet en Coopération pelo .fr), DNS Belgium (.be), ESNIC (.es)…

Uma controvérsia estabelece-se então, dado que a competência da ICANN é mundial, embora seja sujeita à lei da Califórnia.

Uma internet ou umas internets?

Lembre-se que a ICANN gere os servidores DNS raízes: isto significa que para um site ser encontrável, o seu nome deve aparecer nas tabelas dos servidores. O dia 1 de setembro de 2006, a China estabelece seu próprio servidor raiz e já não passa pelos servidores da ICANN. Desde então, duas internets coexistem, uma chinêsa e outra mundial. Por exemplo, os nomes de domínios em .com.cn são transformados em .com do lado chinês, e em seguida, redirecionados para cópias filtradas e limpas de qualquer conteúdo indesejável pelas autoridades de Pequim. Desde o resto do mundo, os sites chineses visíveis tiveram de ser aprovados por Pequim para ser publicados nas tabelas DNS visíveis a partir do exterior.

Este projecto que responde ao doce nome de Escudo Dourado faz parte do Grande Firewall da China, um conjunto complexo de controle bloqueando endereços IP, filtrando os URLs e os DNS como acabamos de ver.

Os mais importantes jogadores da Internet, como os motores de busca, tenham rapidamente adaptados às necessidades específicas da China limitando seus resultados à Internet autorizada, os braços de ferro entre eles e as autoridades chinesas terminando sempre a vantagem destas últimas. Este é o preço que eles estão dispostos a pagar para entrar no mercado chinês.


Une histoire des noms de domaine (em francês)
Una historia de los nombres de dominio (em espanhol)
History of domain names (em inglês)

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